Educação financeira na escola? Porquê ?











A proposta de realizar educação financeira nas escolas portuguesas talvez requeira uma justificação. Apresentamo-la, de seguida, sob a forma de constatações, as mesmas que motivaram os professores que idealizaram o projecto:


1. A importância da literacia financeira tem vindo a crescer à medida que as pessoas são confrontadas, ao longo da sua vida, com a necessidade de tomar decisões financeiras cada vez mais complexas e determinantes. Estudos internacionais têm demonstrado a existência de um baixo grau de compreensão das questões financeiras por parte dos consumidores. A informação disponibilizada aos consumidores está concebida para consumidores médios e não para os de baixos níveis de literacia funcional, impedindo-os de tomar as decisões financeiras adequadas.


2. A flexibilidade do mercado de trabalho, a precariedade do emprego, as alterações do nível de vida, a crescente longevidade,... são muitos os factores com sérias implicações na forma como realizamos o planeamento financeiro. Razões acrescidas, de carácter estrutural ou conjuntural, fazem da literacia financeira uma ferramenta de empoderamento e uma importante competência de vida: a capacidade de tomar decisões financeiras fundamentadas é uma das chaves para melhor identificar e maximizar as oportunidades que surgem no mundo de hoje, em constante mudança.


3.Tem vindo a ser demonstrado, em diversos sistemas educativos, que muitos aspectos da literacia financeira de que os jovens necessitarão na vida adulta podem e devem ser adquiridos na escola.


4. Existe um preocupante contraste entre a importância da educação financeira e económica no quotidiano e as graves limitações que os actuais currículos escolares apresentam no que diz respeito à educação financeira da generalidade dos alunos. O panorama curricular actual reduz, praticamente, as oportunidades de realização de aprendizagens significativas nestas áreas aos alunos que optem pelo Curso de Ciências Socioeconómicas (tal opção só é efectuada a partir do 10º ano e, em muitas escolas, não é viabilizada pela oferta educativa; acresce que, mesmo nos alunos frequentadores desses cursos, existem diversos constrangimentos que favorecem um baixo nível de literacia financeira e económica).



5. O papel que caberia à escola desempenhar neste domínio da formação integral dos alunos não é suprido pela acção das famílias, de organismos públicos ou da sociedade civil. Com efeito, é muito insuficiente o número e a qualidade das acções de educação económica e financeira actualmente dirigidas às crianças e jovens em Portugal. A necessidade de programas de educação económica e financeira é diariamente confirmada por informações, análises e reflexões provenientes da sociedade civil (nomeadamente do mundo académico, do tecido empresarial e da comunicação social), mas também de órgãos do poder político. A título de exemplo, poderão citar-se as recomendações do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia quando chamam a atenção para a importância da educação financeira da juventude, como parte do conjunto de conhecimentos e aptidões indispensáveis à realização pessoal, inclusão social e cidadania activa.